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A Ghost Story: a sensibilidade e a sutileza do tempo

  • Foto do escritor: Culturando
    Culturando
  • 1 de jul. de 2020
  • 3 min de leitura

por Lucas Benatti

Arte inspirada no filme feita por @bena.arte

Esse fim de semana assisti A GHOST STORY (Sombras da Vida em terras tupiniquins). E olha... faz tempo que um filme não me deixava tão pensativo e satisfeito após a chegada dos créditos. Não lembro de ter visto trailers ou cartazes no cinema em 2017 quando o filme estreou, mas realmente (e infelizmente) esta obra do diretor David Lowery feita com um baixíssimo orçamento - $100.000 USD, longe dos milhões investidos nos filmes atualmente - não seria um grande blockbuster pros cinemas brasileiros.

Resumidamente, a trama segue a trajetória de um homem (interpretado por Casey Affleck) que, após morrer, volta como um fantasma, sendo apenas um espectador da vida de sua esposa (Rooney Mara) enquanto ela tenta se adaptar à nova vida de viúva e ao passar do tempo.

Ao se deparar com o fantasma (personagem principal do filme), muitos podem pensar que se trata de um filme de terror, o que não é. Se tem algum terror nesse filme, é aquele de ser esquecido, de viver eternamente só, de ver quem ficou indo embora.

A montagem do filme é lenta em diversos aspectos, seja nos poucos diálogos (destaque para o monólogo feito por um personagem aleatório no meio do filme) ou mesmo em longos planos sequência que atravessam o espaço e o tempo de diversas maneiras. Obviamente o filme não é perfeito, visto que algumas dessas longas cenas tendem a ser cansativas e até desinteressantes. Mas, ao se render ao tempo desse filme, a desligar o celular e se deixar levar pelos lentos acontecimentos, a experiência será inesquecível.

A Ghost Story é um filme delicado, difícil, com ritmo lento que faz jus ao mote do filme: o tempo. É o que temos de mais precioso e ao mesmo tempo é o que deixamos de lado em muitos momentos.

ANÁLISE/INTERPRETAÇÃO COM SPOILER

Assim como disse anteriormente, esse filme fala sobre o tempo. O tempo que nós passamos e o tempo que passa por nós. Um tempo em que afeta positiva e negativamente até seres imortais como fantasmas. Este que tem um visual simples, necessário para não passar uma impressão ruim de ser um stalker e também ser genérico o bastante para ser a alma de qualquer um de nós.

O tempo faz com que algumas marcas sejam fechadas para uns, como a ex-esposa do fantasma que usa roupas pretas na data da morte de seu marido, mas, com o passar dos dias, “clareia” sua paleta de cores até superar definitivamente a sua perda.

A delicadeza na construção da obra se deve muito a uma cena em particular: aquela onde a esposa ouve a música de seu marido e por um instante consegue senti-lo, mesmo não estando fisicamente (mas em espírito) ali. Tal cena faz referência com outra, quando a esposa vai embora em definitivo de sua casa. Enquanto ela está no carro, sua expressão é de alívio, de liberdade e a trilha sonora cresce em contraste ao silêncio presenciado pelo fantasma solitário dentro da casa.

Não me convenceu muito a passividade com a qual a família estrangeira lida com a presença de um fantasma destruindo seus utensílios. Primeiro porque “mano, as coisas estão flutuando, portas abrindo, copos estilhaçando no chão DO NADA” e segundo porque, pelo que entendi, a família não tem boas condições financeiras a ponto de comprar novos jogos de prato, copos e afins. Enfim, não me pareceu muito relevante a presença deles na trama.

Seguindo para os próximos moradores da casa, somos apresentados a um personagem novo com um monólogo a princípio sem sentido, mas que logo se percebe a necessidade e a sutileza de ser inserido ali. O monólogo nos fala sobre a obsolescência de tudo, sobre o efêmero, sobre deixar sua marca no mundo ou cair no completo esquecimento.

Por fim, muitos se perguntam o que estava escrito naquele papelzinho na parede que, enfim, libertou o fantasma desse mundo. E a resposta é: não sabemos. Na minha interpretação não importa o que tinha sido escrito no papel, mas sim o conceito de colocar o papel na parede.

A esposa diz no começo do filme que costumava se mudar muito quando criança e deixava sempre um papel com uma mensagem em algum buraco na parede ou batente de porta antes de seguir para sua nova casa.

Então, quando o fantasma encontra o papel no batente da sua casa, é como se ele estivesse, também, pronto para ir para sua nova casa, ou seja, o além, o desconhecido.

Qual a sua interpretação em relação ao filme? Concorda ou discorda de algo que falamos aqui?

E aguardem, teremos mais análises em breve!

 
 
 

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