Crítica: “Coringa” é um filme perigosamente bom
- Culturando
- 15 de out. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de out. de 2019

Todd Philips consagrou sua carreira com o lançamento de Coringa. Ao lado dele, Joaquin Phoenix viu a repercussão do filme que protagonizou ser discutida e rediscutida, além de ter seu nome atrelado a “influências perigosas”. De fato, o filme é perigoso, mas pela sua qualidade, não pela influência que pode exercer. Embora os argumentos de quem defende que passar um filme sobre um homem revoltado e ignorado pela sociedade que se rebela e mata parte da população sejam válidos, é preciso que outras coisas sejam levadas em consideração.
O que cabe dizer é que o diretor e sua equipe de produção acertaram em cheio em todos os aspectos cinematográficos avaliáveis. A fotografia de uma Gotham entre os anos 1970 e 1980, tomada pelo caos e pelo descaso de um prefeito corrupto e assolada pela presença de famílias ricas que não sofrem as consequências da vida nos centros e periferias da cidade, lembra muito as ilustrações da cidade feita nos quadrinhos mais famosos, como os de Alan Moore.
A trilha sonora, apesar de sutil e suave, chama a atenção por contrastar os momentos nos quais aparece, principalmente nas cenas em que Arthur Fleck é pego evidenciando sua loucura. Suas danças exageradas e cheias de movimentos espalhafatosas são aperfeiçoadas pela música que a cerca. Sempre sombria e comedida, dando a impressão até de que o momento é mais escuro.
O enredo é totalmente focado em Arthur Fleck, interpretado brilhantemente por Joaquin Phoenix. Mostrando aspectos da história do vilão que, até esse momento, haviam sido contados apenas nas histórias em quadrinhos – nas mais sombrias, inclusive. Ao contar sua infância conturbada, sua origem desconhecida e os problemas enfrentados por sua mãe, o filme deu um background inédito para o personagem, já que os filmes anteriores ficaram em débito com o público nesse sentido.
O ator, que já tinha mostrado seu potencial em outros grandes nomes do cinema mundial, como Ela, Gladiador e Você Nunca Esteve Realmente Aqui, gravou seu nome na história dos filmes baseados em histórias de super-herói. Ele é, sem dúvida, parte do hall da fama dos Coringas, ao lado do brilhante Heath Ledger e Jack Nicholson. Abusado física e psicologicamente na infância, controlado por uma mãe fechada e doente e sentenciado a uma vida de renegado quando adulto, Arthur vê sua vida ser cada vez mais tomada pela loucura e seus impulsos assumindo o controle de suas ações.
Fleck queria ser notado; queria que as pessoas o vissem pelo que ele realmente era: um palhaço apaixonado pela profissão e por trazer alegria. Conforme disse sua mãe “você veio ao mundo para trazer alegria”. Mas sua condição psicológica o afastava de sua “missão divina”, enquanto se via cada vez mais isolado e reprimido. Ele era fruto de piadas, e sua fragilidade era usada como meio para tirar vantagens do homem. Mesmo que não quisesse, seus crimes o tornaram um símbolo de resistência a elite em uma cidade carente de um herói, e seu reconhecimento veio. Phoenix lida brilhantemente com a instabilidade de seu personagem, e torna a transição de Arthur Fleck para Coringa ainda mais sombria.
O filme, por si só, é um clássico. Feito com os moldes dA Academia, que escolhe os filmes indicados ao Oscar todos os anos, o longa metragem assume um posicionamento Cult, mas ainda agrada todos aqueles que esperavam a dor e o sofrimento causado por um dos – senão o maior – vilão do Batman. O Coringa carrega consigo uma história gloriosa, vindo do sádico e cômico Nicholson até o insubstituível Ledger, em Batman: O Cavaleiro das Trevas, e tropeçando em Jared Leto, de Esquadrão Suicida. Vale o ingresso, o download ou o clique pela atuação e pela direção, dignas de prêmios e ovações de pé.
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