Documentários Criminais: Afinal de contas, quem é Henry Lee Lucas?
- Culturando
- 21 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
O nome Henry Lee Lucas é capaz de causar um arrepio na espinha de quem sabe sua longa história de andanças, agressões e assassinatos. Entre 1960 e 1983, Henry Lee Lucas vagou pelos Estados Unidos como andarilho cometendo diversos crimes ao longo de sua jornada, até ser eventualmente preso pelo assassinato de uma das mulheres com quem teve um relacionamento e ter confessado cerca de 100 outros crimes sem solução por todo o país para policiais que o vigiavam. Até hoje ninguém sabe exatamente a verdade sobre o que aconteceu.
Tentando explicar o que teria acontecido e uma explicação para tudo o que aconteceu, lançou em 2019 o documentário “O Assassino Confesso”, do diretor indicado ao Oscar Robert Kenner. Considerado uma “mini série documental”, o projeto recolheu relatos de jornalistas, oficiais de polícia, investigadores e outras pessoas envolvidas com o assassino para trazer a tona todos os fatos que levaram ele de serial killer à “o mais prolixo serial killer dos Estados Unidos”, e depois até “Hery Lee Lucas: o assassino mentiroso”.
A grande verdade é que, até hoje, não se sabe quantas pessoas Lucas teria assassinado. Enquanto se tornava amigo de seus oficiais de justiça por sua educação e polidez, apesar de sua prisão, ele usou seu tempo para apresentar histórias elaboradas e apresentar cenas de crimes que ainda esperavam solução ao longo de 20 anos em diversos Estados. Ele foi capaz de apontar covas rasas onde teria despejado o corpo, e colocou também um novo integrante na história: Ottis Toole, seu parceiro de crime e amante.
Segundo a história que ambos contaram, sua matança começou porque Lucas tinha um ódio penetrante de todas as mulheres, no geral, por causa do relacionamento que tinha com sua mãe – sua primeira vítima. Ele chegou a ser preso pelo matricídio, mas solto alguns anos depois, quando começou a andar pelo país. Kenner se preocupou em mostrar as circunstâncias em que o assassino vivia numa vã tentativa de justificar seus sentimentos e suas escolhas de vida, assim como faz todo o diretor de documentário criminal. Entretanto, essa escolha se torna mais arriscada da forma como foi feita por Kenner, de forma descuidada e incrivelmente vaga.
Lucas e Ottis, e a carreira solo do primeiro, não foram os responsáveis por todos os crimes que confessaram. Na verdade, como se provou pouco depois, tudo o que ele contou serviu para se tornar mais amigo dos policiais, a ponto de transformá-los em seus companheiros e não em seus carrascos. Isso não o torna um inocente, mas também não o exime da mentira.
O grande ponto da história de Henry Lee Lucas é a incessante dúvida: qual é o número real de suas vítimas? Ele sabia mais do que falou e foi calado pelas acusações de falso testemunho? Ou ele sabia de menos e deu um tiro no escuro que de fato funcionou? O documentário de Kenner se perde ao tentar explicar os furos no meio da história do assassino e dos relatos policiais, assim como fez a mídia no passado. A grande diferença é que a mídia nos anos 1980, quando foi preso, ainda não tinha todas as informações. Quase 40 anos depois, sua equipe tinha.
Kenner se perde em sua narrativa e não consegue entregar o que era esperado para uma produção desse porte. Ao contrário, deixa o público com o gosto de incoerência, inconstância e interferência. O diretor não consegue, na verdade, seguir uma única linha de pensamento enquanto produz o documentário, e os relatos de seus entrevistados se confundem com a forma como o roteiro foi construído.
Em conclusão, os pecados dos documentários são maiores do que suas qualidades, mas isso não quer dizer que a história de Henry Lee Lucas não deva ser conhecida. Talvez apenas por um outro lugar.
Comentarios