Documentários Criminais: Extremamente perverso, surpreendentemente mal e vil
- Culturando
- 24 de abr. de 2020
- 4 min de leitura

Ted Bundy era um homem mal e perverso. Este é o único modo saudável de descrever um dos mais infames serial killers dos Estados Unidos. Ao todo, de acordo com sua sangrenta confissão, Bundy assassinou mais de 30 mulheres entre 1974 e 1978 em 7 Estados dos Estados Unidos. Ele foi executado em 24 de janeiro de 1989 por algumas de suas barbaridades na cadeira elétrica. Morreu sorrindo, sem levar consigo um pingo de remorso.
Sua história foi estampada em todos os meios de comunicação por décadas. Uma dezena de livros já foram publicados com sua história e outra dezena de artigos com seu nome figuram as páginas de jornais e revistas médicas e policiais todos os anos. Mas o que pode escapar do público era seu aspecto mais cruel: sua simpatia e carisma com o público que o acompanhava - em sua maioria mulheres que se encaixariam no seu perfil de vítimas - e principalmente com a mídia. Isso, porém, não escapou aos olhos de Joe Berlinger, diretor da série documental Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy, da Netflix.
Em 3 episódios, Berlinger usa especialistas, policiais que participaram do caso, advogados de defesa e acusação, vítimas e conhecidos do assassino para contar, passo a passo, a trajetória do mais charmoso assassino norte-americano. A série é pegajosa, daquelas que não te larga até o último minuto do episódio, mas que arrepia os cabelos da nuca e te deixa com os olhos abertos a noite. Para quem gosta, é um prato cheio.
O documentário foi sucesso absoluto entre o público da plataforma de streaming, e deve ter sido recomendado à grande parte dos assassinantes - que devem ter seguido a sugestão. Seus atributos são vários. O trabalho de pesquisa histórica de todo o contexto histórico e social da época em que os crimes acontecerão; a junção dos registros policiais e estudo dos julgamentos cria uma linha linear para o entendimento da história; e as entrevistas são feitas com respeito e cuidado com o tema, além de serem objetivas e conclusivas.
Mas o maior atrativo da série é sua crueza nos fatos. Numa história como essa, não há margem para dúvidas: Bundy é culpado de todas as acusações, e possivelmente de outras que não foram feitas. Por isso, o diretor é contundente ao apontar a crueldade do culpado desde o início da série documental. Sua frieza ao negar as acusações para aqueles que desconfiavam e para sua então namorada, enquanto saía a noite após suas aulas na faculdade de direito para cometer seus horrendos crimes.
Bundy era bonito. Com olhos azuis, sorriso de canto e cabelo volumoso e charmoso, ele conquistava quem parava para olhá-lo. Mas, no fundo, aquela imensidão era uma fachada para uma psicopatia irreparável, que causou diversos traumas à diversas famílias - famílias essas que, até hoje, não encontraram os corpos de suas filhas, irmãs, esposas ou namoradas. Berlinger se preocupou em mostrar um outro lado de sua beleza; uma brecha em sua fachada de bondade para o abismo sem fim que existia dentro dele. Os takes mostram imagens constantemente veiculadas na mídia quando se fala em Ted Bundy, mas por outros ângulos, não pelas lentes do repórter responsável pela fotografia.
É possível ver sua loucura estampada nos olhos azuis, e há quem diga ainda eles se tornavam completamente pretos quando ele falava sobre seus crimes. Este lado é estampado pelas câmeras que pegavam o canto de seus olhares ou seus sorrisos de canto direcionados para o outro lado. E esse é o ponto mais interessante do documentário da Netflix, sua capacidade de pegar uma história já contada e mostrar o que há por trás dela.
Ted Bundy é um dos maiores exemplos de "lobo em pele de cordeiro" da idade moderna. Por causa dele, a política de troca de informações entre delegacias foi alterada para que seja mais fácil compartilhar detalhes sobre casos semelhantes e, consequentemente, não permitir que um assassino haja por tanto tempo em tantos locais. Ele é, também, responsável por grande parte do medo que existia entre as mulheres, principalmente as universitárias, durante os anos 1970.
Todos os episódios valem cada minuto, do clique inicial até a música arrepiante no final. Aqueles que gostam desse tipo de história, e possuem estômago, podem dedicar parte de seus dias à série e ao filme, lançado em 2019 com o título A Irresistível Face do Mal - sugestivo, né?
Estrelado por Zac Efron em um dos pontos altos de sua carreira, o filme peca por sua linha temporal, mas não deixa a desejar no que diz respeito a atuação e veracidade dos fatos. É verdade, porém, que o longa humaniza o assassino, mas é importante para quem assiste entender que, por trás de suas crueldades, Bundy tinha uma história, vivida com afinco e paixão com uma esposa e enteada.
O título de seu filme não poderia ser melhor: ele era capaz de atrair suas vítimas sem muito esforço pelo simples fato de ser o tipo de homem que as mulheres procuravam. Bundy personificou o mal por anos, e foi capaz de negar seus crimes por ainda mais tempo, até que cedeu dias antes de se sentar na cadeira elétrica. Seu número total de assassinatos será para sempre desconhecido, assim como o nome de todas as mulheres que viram sua loucura de perto, mas o documentário e o filme trazem a verdade nua, crual e cruel: o mal não vem vestido de sobretudo, com dentes grandes e baba escorrendo pelos cantos da boca.
Em inglês, o título do filme sobre Ted Bundy é Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile - Extremamente Perverso, Surpreendentemente Mau e Vil. Essa é a fala do juiz responsável pela primeira condenação de Bundy ao anunciar o veredicto de pena de morte. Sua fala é oportuna e verdadeira, capaz de traduzir o sentimento do público aos crimes cometidos por ele - mas não seus sentimentos quanto a o que foi feito. Ele era um homem inteligente, com um grande futuro possível, mas extremamente perverso, surpreendentemente mau e vil.
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