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Documentários Criminais: o que aconteceu com Madeleine McCann?

  • Foto do escritor: Culturando
    Culturando
  • 7 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura

Arte feita exclusivamente para a série Documentários Criminais por Lucas Benatti (@bena.arte)

O misterioso desaparecimento da pequena garota britânica, Madeleine McCann, na época com 4 anos, durante uma viagem com a família para Algarve, em Portugal, completa hoje treze anos. As circunstâncias do crime ainda são desconhecidas; a polícia portuguesa passou anos seguindo pistas falhas; os pais continuam a incessante procura pela menina, que agora teria aproximadamente dezessete anos. Nenhuma vida mais foi a mesma após aquele 7 de maio de 2007, e o mundo procura respostas para este caso desde então.


A garota dormia no quarto da família no resort em Praia de Luz enquanto seus pais e amigos jantavam no restaurante, a cerca de 100 metros. Junto dela, apenas seus dois irmãos de 2 anos. Os adultos se revezavam durante o jantar para checar as crianças, e, para facilitar a entrada, deixavam a porta destrancada. Em um desses revezamentos, Madeleine desapareceu sem deixar rastros. A janela parecia mais aberta do que estava na vez anterior e a porta estava fechada; os gêmeos dormiam com tranquilidade; nada no quarto parecia remexido. Os pais, Gerry e Kate McCann se juntaram a outros hóspedes na procura, e a polícia demorou a ser chamada enquanto muitas pessoas entravam e saiam do quarto. Ninguém viu ou ouviu nada. Ela havia apenas desaparecido, e nunca mais reapareceu.


O desaparecimento já foi tema de dezenas de filmes e documentários, independentes e com grandes selos. Em 2019, a Netflix se juntou ao grupo e lançou o documentário O Desaparecimento de Madeleine McCann, dirigido por Chris Smith. A série documental busca dar nova luz sobre o caso com entrevistas com jornalistas, policiais, especialistas em desaparecimentos de crianças, moradores de Algarve e dos arredores de Praia de Luz – onde a família estava hospedada – e até pessoas que chegaram a ser investigados pela polícia.


Com uma visão objetiva e sensível sobre os momentos mais críticos e emocionais da investigação, Smith usa seus 8 episódios para trazer ao público todos os traumas e conflitos que surgiram durante a participação da polícia portuguesa no caso, as teorias que cercavam o desaparecimento de Madeleine e a frustração da família a cada nova tentativa falha. Durante o processo de procura, um detetive particular foi capaz de quebrar uma rede de sequestro e pornografia infantil, mas não encontrou o rosto da garota na lista infindável de vítimas.


Na época em que Madeleine, seus pais e seus dois irmãos gêmeos passeavam em Algarve com amigos, Portugal havia se tornado um dos centros de pedofilia da Europa, e as autoridades locais lutavam para quebrar essa cadeia. Por isso, quando a pequena menina foi dada oficialmente como desaparecida, seguindo os termos da lei da portuguesa, acreditava-se que este poderia ter sido o motivo do desaparecimento. Embora parecesse o mais provável, a mídia e a população local se encarregaram se encomendar outras probabilidades – às vezes mais bizarras, às vezes racionais.


O grande problema, conforme mostra o documentário, é que a confusão das autoridades locais era maior que a imaginação das pessoas, e eles acabaram se prendendo por tempo demais em teorias infundadas, diminuindo a cada segundo as chances de encontrar a menina. Pistas surgiram de diversos lugares; pessoas que viram uma mulher e uma garota com a mesma idade de Madeleine em um posto de gasolina nas proximidades no dia do rapto; pessoas que a viram em outros países dias e semanas após seu desaparecimento.


Tudo foi checado ao menos uma vez, mas nunca duas, e o diretor usa todas as possíveis oportunidades para cutucar os erros cometidos pela polícia de Algarve, especialmente pelo responsável pela investigação, Gonçalo Amaral. Acusado de ser negligente com provas, raso em relatórios e acusar infundadamente os pais e outros suspeitos, Amaral chegou a ser afastado do caso em um momento onde as chances de encontrá-la já pareciam ainda menores.


Até hoje, Madeleine ocupa o imaginário de muitas pessoas ao redor do mundo, e é assunto principais em diversos fóruns de discussão online, onde novas teorias e “pistas” pipocam diretamente. Entretanto, conforme é mostrado no documentário, as hipóteses mais comentadas pelo público são duas: o sequestro e o pais. Muitos buscam motivos e situações que poderiam incriminar os McCann pela possível morte de Madeleine, e comparam a história dela com de outras crianças assassinadas por pais, madrastas e padrastos. Entretanto, os pais foram investigados.


Mas, conforme dito anteriormente, nenhum investigador foi capaz de se aprofundar na motivação e, principalmente, no que teria acontecido com a criança. A polícia chegou a apostar em um cachorro que poderia sentir o cheiro de sangue, mesmo que tivesse sido limpo, e que farejou algo no apartamento em que Madeleine estava dormindo quando desapareceu e em seu brinquedo preferido. Tudo era circunstancial demais para levar para o tribunal; todas as evidências não provavam um único traço de culpa.


Este, talvez, seja o episódio mais sensível, delicado e importante do documentário. Cris Smith se mostra paciente e sensível ao tratar da probabilidade de terem sido os pais, e se apoia em opiniões de civis e da própria mídia, que já havia levantado a possibilidade enquanto a polícia corria atrás de um rabo imaginário. Porém, o diretor é objetivo ao fechar o episódio: não há fatos e provas que coloquem os pais na cena do crime no momento em que Madeleine teria desaparecido.


Já são treze anos desde que a menina esteve na presença da família pela última vez. Hoje, seus pais, já mais velhos e cansados, continuam juntando esforços para encontrar a filha desaparecida, enquanto órgãos de cuidado infantil se dedicam a buscar novas pistas sobre o caso. Mas a resposta ainda é assustadora: não se sabe o que aconteceu com Madeleine McCann.


Aqueles que se lembram com clareza do caso, principalmente pais e mães, criticam Kate e Gerry por terem deixado seus filhos desprotegidos e sozinhos no quarto enquanto jantavam. Outros, cobram o resort por mais controle de quem entra e sai de suas dependências, e há quem desconfie de funcionários do local ou dos vizinhos. Ninguém saiu ileso do julgamento público do caso, mesmo que nunca tivesse aparecido um culpado. Outro ponto positivo da obra de Cris Smith é não deixar passar nenhuma teoria, baseada em fatos ou não, para ilustrar a seriedade e o mistério do caso.


A família e amigos continuam publicando apelos constantes pela volta de Madeleine.

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